O Diário de Mathias Mibach
Traduzido por Ingrid Ingeborg Moecke Graupmann
PREFÁCIO
“Eduardo Schwarzer”, nascido na Alemanha em 23/03/1913, recebeu o pedido de Anna Frei, nascida “Mibach”, moradora da Colônia São Miguel da Serra, distrito de Porto União, estado de Santa Catarina, Brasil, para escrever o Diário de seu pai, “Mathias Mibach”, nascido em 14/12/1897, na Alemanha e falecido em Porto União em 08/06/1969, o qual foi escrito em letras góticas para passar para o alemão cotidiano. Como Mathias Mibach era um velho conhecido de nossa família, e nós o temos em boa memória, faço-o com prazer. Ao mais quero deixar claro de inicio que Mathias Mibach foi longo tempo professor que me lembre em São Miguel, com isto professor de minha esposa Herta Schwarzer, nascida Werle, durante os anos de 1926 até1930. Ainda quero desculpar-me pelos erros cometidos, pois só tive aulas de alemão alguns meses. Eu vim para o Brasil com meus pais quando tinha apenas 7 anos de idade e cheguei a São Miguel da Serra em 1920, meu professor foi Adam Seger, o qual era o 1° professor em São Miguel na sua fundação em 1919. Mas em 1922 fomos para os Estados Unidos e ficamos por lá 6 anos, indo lá na escola durante este período até 1928, quando meus pais voltaram para São Miguel, no Brasil. Desde esta data até 1951 morava quase sempre nesta localidade. Aqui fiz contato muito agradável com o Sr. Mathias Mibach.
Com isto, um pequeno visual meu sobre mim, e vamos à tradução.
Minha Emigração da Alemanha e Imigração para o Brasil
Num domingo de pentecostes do ano de 1923 decidimos imigrar para o Brasil. Logo colocamos-nos a correr atrás dos passaportes e documentos. Tudo nos saiu excelentemente bem, bem como almejávamos. Só quando estava tudo pronto, veio à máxima desvalorização da moeda, consequentemente não dava mais para concretizar o nosso sonho, mal ou bem, tivemos que desistir da nossa viagem. Passamos um tempo duro e oustero na Alemanha. Mas por isso o nosso plano de sair de lá ficou mais concreto ainda. Quando, então, em dezembro deste ano foi mobilizado ou estabilizado o marco (dinheiro), vimos que chegou o nosso momento de concretizar nosso sonho.
As condições melhoravam de dia a dia. Em 27 de janeiro de 1924 nós nos reunimos novamente pela 1ª vez em Kolônia. Foi então decidido e aconselhado o que devíamos fazer ou deixar de fazer. Decidimos começar tudo mais uma vez, adiantar definitivamente a documentação da saída e visto de entrada na nova pátria.
Em 27 de março de 1924 a viagem iria concretizar-se para o Rio de Janeiro, Brasil. Lamentavelmente os lugares já estavam esgotados e nós não podíamos viajar. Mas no mesmo mês, dia 29, iria o navio de nome Weser, mas também já estava lotado. Nós nos informamos para frente sobre navios que nos atravessariam ao Brasil e conseguimos, em fim, a embarcação de nome Sierra Córdoba, no dia 5 de abril de 1924.
Pagamos nossas passagens e ficamos descansados. Com paciência aguardávamos o dia de partir. Tivemos que por em ordem nossas caixas e caixotes para que não ficasse para os últimos dias. O Clube de Bandolins Almenrausch queria fazer uma foto do clube total antes da nossa saída, então dia 16 de março fomos a Gindrath fazer a mesma. Bebemos bastante na volta. A noite foi nos dado uma festa de despedida da associação de Teatro Bleschen, às 7 horas com noite teatral e festa de despedida para os retirantes.
Sábado, 29 de março à noite, veio o Corpo de Bombeiros Voluntários e a Banda Musical Heimen e nos acompanharam para o restaurante com música onde no Local Deutschen Eck tivemos mais uma festa na coordenação do Prefeito e Sr. Brandmeister, onde foram honrados os retirantes como bons munícipes em retirada. Depois de nos ter desejado tudo de bom e com a promessa de nos mandar correspondências ficamos mais num papo aconchegante. Mesmo que gostaríamos de ter ficado mais em meio aos nossos amigos, tivemos que nos retirar e ir para casa terminando a festa. Cantamos acompanhados pela banda e Corpo de Bombeiros a canção: Muss i denn, Muss i denn zum Stadele hinaus.
No domingo continuamos a festejar em meio aos nossos familiares.
Na segunda-feira dia 30, começamos a empacotar caixas e mais caixas, com muita coragem e ânimo, mas era a pior e mais pesada tarefa até agora, para nossa grande viagem. Mas como se não bastasse, a noite veio o conjunto de Bandolim Almenraush para nos buscar para uma festa que foi organizada pelo clube. Lamentavelmente tivemos que parar de empacotar para acompanha-los. Tivemos algumas horas agradáveis para vivenciar entre os retirantes, os últimos em nossa pátria. Mais tarde, continuamos a empacotar. No outro dia à tarde, organizamos as últimas coisas e estávamos prontos para a grande viagem.
A Viagem
Na quarta-feira, 2 de abril, ao meio-dia, fomos para a estação acompanhados pelo Grupo Musical do Clube Almenwunsche e nossos familiares de onde partimos rumo a Koeln, às 5 horas da tarde. Nos despedimos dos familiares, amigos e conhecidos o que foi muito duro. Mas tinha que ser para concluir o que nos propomos. Em fim o trem começou a andar abaixo de música e abanos. Nós éramos 600 pessoas que deixavam a pátria quem sabe até o dia de são nunca. Em Hessen o azar nos acolheu. Uma das caixas havia caído do vagão, mas depois de a ter recolhido novamente tudo ficou bem e chegamos a Koeln às 3 horas. Tiramos as passagens à Bremen e embarcamos a bagagem. Para isto, tivemos de ir até a alfândega antes de embarcarmos. À noite, às 10:45 PM seguimos com o trem rápido até Bremen. Durante a viagem foram controlados os passaportes e as bagagens, chegamos lá às 6 da manhã. Fomos recebidos por um agente do Skat (Clube de baralho Alemão) que nos levou ao hotel, Zur Post (correio), onde ficamos no intervalo. Às 9 horas fomos levados ao escritório representativo do Loijd norte Alemão (Companhia de navegação), onde recebemos carteiras de identidade. No outro dia de manhã tivemos que pagar alfândega para nossa bagagem. Quando estava tudo feito, fomos almoçar. Após o almoço, tivemos uma pré-consulta pelas 2 horas e durante à tarde fui ao centro comprar uma espingarda e munição. Seguimos ainda com um trem local ao Porto de Brem. Lá, mais uma vez, nossa bagagem foi controlada e enfim subimos no navio. Fomos recebidos com música e pudemos procurar nossas camas.
A Travessia de Navio
No outro dia arrumamos louça para buscar comida. Ela era excelente. Lá pelas 8 horas, o nosso guia, Sr. Willi Bleiser, se despediu. Nós estávamos curiosíssimos para ver o navio sair do cais, mas por falta de água no rio, tivemos que esperar. Somente às 11:15 horas o navio saiu devagar através do rio Weser, sentido Mar do Norte.
No outro dia, um domingo de 6 de abril, às 7 horas, fomos acordados por uma Banda que tocou “Este é o dia do Senhor”, em seguida tivemos o café da manhã e às 11:30 horas o almoço, às 15:30 horas o café da tarde e às 18 horas o jantar.
No mar do Norte, encontramos o navio irmã, “Sierra Vento”, após ter mandado o recado do nosso navio para o outro seguimos viagem.
Durante o dia encontramos muitos navios. À noite, às 21:00 horas tivemos um concerto até as 22:00 horas. Por 22:30 horas íamos a Dove (Inglaterra). Nesse ponto o relógio foi atrasado por uma hora. O navio foi ancorado, pois a neblina fora muito densa. Quando a neblina cedeu seguimos viagem. Pelas 7 horas da manhã avistamos o rebocador “Ruste” (Chesterberg).
O tempo abriu e ficou bem limpo, podia-se enxergar a costa dos dois lados do canal. De tempos em tempos o relógio ia sendo atrasado por meia hora. A noite começou a chover. Continuamos navegando ao longo da costa e atracamos em vários portos pequenos, onde subiam sempre mais alguns passageiros. A vista destes pequenos portos era maravilhosa. À noite, às 22:00 horas, chegamos em Vigo, era muito bom pois o tempo era bom. Às 14:00 horas saímos de lá. Quando chegamos ao alto mar o navio começou a balançar bastante forte e ao mesmo tempo tinha um vento forte e ondas grandes. Dos passageiros que subiram a bordo em Vigo, vários ficaram com enjôo de mar. À tarde houve bastante bagunça e caída d’água.
Na sexta, dia 11 de abril, às 17 horas, atracamos em Lisabon (Portugal), tivemos uma bela vista deste porto de navio. Com suas casas brancas com telhados brancos, belos jardins floridos, enfeitados com palmeiras, e na encosta da montanha o castelo residencial. Novamente tivemos o mesmo movimento com os vendedores ambulantes que vinham a bordo. Sempre vimos outras coisas, muitas novidades das quais nunca havíamos visto. Novamente o navio carregava carvão e água, o que levou 11 horas. Seguimos viagem e encontramos mais navios. Chegando novamente em alto mar, a coisa ficou divertida, com jogos e danças.
Sábado, 12 de abril, levantei às 6 da manhã, chegamos em Madeira, que vista maravilhosa. Logo após o café descemos para visitar a cidade. Num bar, paramos e bebemos algumas garrafas de vinho “Madeira”, estávamos viajando de carro de burros. No caminho compramos bananas, flores e outras coisas, voltamos a bordo as 11:00 horas. Ao meio-dia, o navio seguiu viagem com música e cantos.
Segunda, 14 de abril, mar calmo e tempo bom. Terça, dia 15, meio-dia, chegamos a Las Palmas, onde só passamos, lá encontramos muitos navios. À noite, às 23:00 horas, começou de repente um vento muito forte.
Quinta, dia 17, tempo bom e mar calmo, pelo dia inteiro passamos por muitas ilhas.
Sexta, dia 18, tempo bom e mar calmo, às 7 horas a banda anunciava que era Sexta-feira Santa, estava muito quente.
Sábado, dia 19, o tempo amanheceu nublado e o navio seguia lentamente.
Domingo, 20 de abril (Páscoa), eu já estava em pé às 5 da manhã, pois o calor durante o dia anterior era insuportável. Pelo dia da Páscoa recebemos alguns ovos. No início da tarde passamos pelas Ilhas Fernando, lindo! Vimos veleiros e praias de areia bem alvas, seguimos então sem avistar terra.
Segunda, 21 de abril, os dias já são mais frescos. Vimos muitos navios, agora já íamos ao encontro da terra.
Terça, 22 de abril, tempo bom e mar calmo. Às 7 horas da manhã, vacinação para todos.
Quarta, 23 de abril, novamente tempo bom. À noite, às 19 horas vimos o navio “Wessa”. Mandamos lembranças de um navio ao outro.
Chegada ao Rio de Janeiro
Quinta, 24 de abril, de manhã chegamos perto da costa, enxergamos terra. Chegamos ao Rio de Janeiro às 16:30 horas. Às 21 horas descemos do navio e fomos com barcaça à Ilha das Flores, o que durou 1 hora. Na chegada tivemos que entregar nossos passaportes e recebemos pratos, colheres e xícaras. Podíamos dormir, mas não em camas e sim no chão, em sacos de palhas.
Dia 25 tomamos café às 6 horas e fomos ao Rio de Janeiro no departamento de imigração para receber nossa bagagem de mão. Recebemos lá um pedaço de pão e uma xícara de café. Mas a bagagem não recebemos, porque ainda tinha dois navios na nossa frente. Passeamos na cidade para ver tudo. Em 1º lugar fomos ao Mosteiro dos Franciscanos, pois Padre Tollas teve de entregar lá uma carta de recomendação. Ficamos lá 2 horas. Então procuramos um banco, para trocar dinheiro. Descobrimos lá que a inflação tinha deixado rastros. Nos deram endereços onde possivelmente poderíamos trabalhar. Mas nós não pretendíamos ficar e sim seguir a Porto União. Seguimos à rua Boenos Aires ao restaurante “Criança Branca”, lá encontramos comida boa e cerveja. Após o almoço voltamos à alfândega, mas ainda não conseguimos nossas bagagens. Compramos ainda banana, laranja e coco para as crianças. Voltamos à ilha às 16 horas. Na chegada, pegamos a nossa comida para o dia todo. Isto era: Feijão, soja, café e um pedaço de pão. Quando terminamos de comer fomos dar uma volta na ilha e então nos recolhemos para dormir.
Sábado, 26 de abril, cedo da manhã, às 6 horas, buscamos nosso café e seguimos para o Rio, chegando lá, fomos na alfândega a fim da bagagem que só ia ser liberada de meio dia. Fomos então almoçar no mesmo restaurante da vez anterior e voltamos para a alfândega. Todos examinados, mais tarde levamos a nossa bagagem a barcaça e voltamos à ilha. Já nos esperavam com a comida.
Domingo Branco, 27 de abril, hoje não queríamos e não podíamos ir ao Rio, choveu pesado à noite toda. Era para receber de volta nossos passaportes, o que também aconteceu.
Enfim, dia 28 fomos ao Rio para ver nossas caixas, procuramos e achamo-las. Tivemos que abri-las e mais tarde depois de vistoriadas pô-las novamente em ordem, fechá-las e levá-las. Ao naviozinho que as levou para a ilha. No centro trocamos algum dinheiro, compramos comida e às 17 horas voltamos à ilha.
Terça, 29 de abril, hoje não precisamos ir ao Rio. Procuramos ocupação para matar o tempo, estava muito quente.
Quarta, 30 de abril, tempo bom pode ficar assim.
Quinta, nada de novo.
Sexta, 2 de maio, de manhã chuvas fortes mas o resto do dia bom.
Sábado, 3 de maio, procuramos conchas para nos ocupar.
Domingo, 4 de maio. Lavamos roupa e outras coisas úteis.
Terça, 6 de maio, procuramos moluscos. Mais tarde fomos ao exame de vista.
Quarta, 7 de maio, nada especial.
Quinta, 8 de maio, fomos para o Rio, na imigração, onde achamos o agente alemão, compramos medicamentos. Pelas 16 horas, o naviozinho era para voltar à ilha, mas só chegamos às 18 horas. Lá nos disseram que ainda hoje passageiros iam a Porto União, com isto tivemos que carregar a bagagem. Às 21 horas ficamos prontos e fomos dormir. Durante o dia tínhamos visitado no Rio o mercado livre, era muito interessante para ver tudo isso. Vimos muitas coisas das quais nem conhecíamos.
A Viagem a Porto União
Dia 9 de maio cedo ajeitamos a bagagem, grandes caixas, etc. Às 9:30 horas tivemos consulta médica, pois às 11:00 horas éramos para sair a embarcar no navio costeiro no rio de Janeiro para o sul, mas a demora era muito grande como é de praxe no Brasil. A saída da Ilha das Flores aconteceu às 12:30 horas. Chegando no Rio de Janeiro logo fomos embarcados e começamos a procurar um lugar onde ficar sentados ou deitados, pois não havia lugares para sentar ou camas. Achamos um lugar que foi definido como refeitório. Desembarcamos mais uma vez para comprar pão. Lá pelas 18:00 horas saímos. O navio navegava calmo, só tinha um problema: estava bem inclinado. Não sei se o carregamento estava torto ou sei lá, mas era ruim para sentar e mesmo para andar. À noite deitei lá mesmo para dormir. Em baixo, nos salões a gente quase não agüentava. Procuramos um lugar no convés, que estivesse livre, pois aí tínhamos ar mais fresco. Às 19:00 horas podíamos comer. A comida era arroz, carne, abóbora cozida com batatas e um pedaço de pão. Estava bem preparado e também era gostoso, mas era muito pouco para nós jovens. Mas haveríamos de nos acostumar, preciso ainda acrescentar no capricho e não era um navio alemão. Bem, isto também passa. O navio se chamava Santos e era do Loide Brasileiro.
Sábado, dia 10 de maio, às 5 horas da manhã levantamos, enquanto durante a noite tínhamos levantado algumas vezes para achar uma outra posição, pois nos doíam as costelas. Outro problema de manhã, nós nos queríamos lavar, mas só havia uma instalação parecida com pia, uma torneira para 5.000 pessoas. As patentes eram assim, que desejávamos não precisar das mesmas. Às 7 horas batia o sino para o café, e como não havia mais pão, recebíamos um pedaço de torrada. Claro que não foi o suficiente. Não custava nada. Por sorte nós tínhamos levado pão. No almoço recebemos feijão, arroz e carne.
Santos
Dia 10 de maio, às 14:00 horas chegamos em Santos. O dia inteiro era tão quente que a gente parecia ver o calor no ar. Para o jantar recebemos cada um, um pedaço de pão, arroz com abóbora, e mais nada. Em torno das 20:00 horas procuramos um lugarzinho para dormir. Achamos nos barcos salva-vidas no convés da 1ª classe.
Domingo, 11 de maio, levantamos às 4 da manhã, pois o desembarque era para acontecer por volta das 8 horas. Mas o navegador ia de um lado para o outro e não conseguia achar a entrada da Baía de Paranaguá. O realmente... ninguém sabia. Após ter dado o sinal, veio o rebocadouro e soubemos então que o navio havia avançado demais e teve que voltar. Só que para achar a abertura teve que fazer uma volta bastante grande, o que levou um pouco mais que 1 hora. Já era 14:30 horas quando atracamos em Paranaguá. Somente fomos desembarcados às 18 horas, o que aconteceu com dois botes a motor, os quais levavam 100 pessoas por hora. Chegamos ao porto de chão firme às 21 horas. Éramos os últimos, pois ficamos por que queríamos para traz. Recebemos um quartinho com uma cama velha. Isto era de que dispomos. Isto queria dizer que em dormir não dava nem de pensar. Então resolvemos cuidar, em 1º lugar, da nossa bagagem, para que ficasse guardada. Fomos jantar, já que o governo oferecia o mesmo gratuito. Só consistia em carne, arroz e um pedaço de pão. Após a janta, resolvemos passear pela cidade, já que éramos sem teto. Mais tarde começou a chover. Agora procurávamos abrigo sempre que fosse até o amanhecer. Voltamos então aquela casa onde abrigamos nossa bagagem e graças a Deus achamos um lugarzinho para nos abrigar. Quando amanhecera estávamos exaustos. Segunda, 12 de maio, 5 horas da manhã, já que não dormimos, fomos dar mais uma volta até a hora do café, pelas 8 horas. Voltamos ao porto para carregar nossa bagagem para até a estação de trem. Esta, então, fora transportada num pequeno carro de burro. Quando resolvida mais esta etapa, e nós fomos almoçar. O almoço persistia novamente de feijão, arroz, farinha de mandioca, carne de gado (ao menos 250g) e peixe frito: o preço: 2 mil reis. Nem podíamos saciar nossa fome, e depois do almoço fomos novamente à estação para conferir a bagagem. Encontramos nossas caixas deitadas abandonadas, pois não foram carregadas, tínhamos esquecido de por o endereço e ninguém sabia para onde iriam. Corrigimos a questão e agora a próxima parada seria Curitiba. Tomara que nossas caixas e bagagem chegassem bem lá.
A Viagem à Curitiba
Devemos sair às 14 horas à Curitiba com o trem dos imigrantes, mas ao chegarmos lá, foi nos falado que só sairia às 16 horas, mas nada feito a esta hora, pois no Brasil existe muito tempo. Enfim, saímos às 16 horas e 45 minutos. A viagem era linda através das montanhas e florestas, aqui e lá encontramos casas que ficavam escondidas no meio das árvores. Chegamos em Curitiba às 22 horas. Lá desembarcou uma grande quantidade de passageiros que ficariam por lá, mas como nós seguiríamos tivemos que ficar sentados no trem. Nos deram o que comer, e esta era a nossa melhor refeição que tínhamos conseguido até então no Brasil. O cardápio era 5 pãezinhos para cada um e meio quilo de lingüiça de carne de gado. À meia-noite seguimos vigem. Dava prazer de viajar agora, pois os trens seguiam rápidos e avançávamos bem, às 15 horas nosso trem foi tirado da locomotiva a qual seguia para abastecer lenha e água, às 18 horas a locomotiva voltava, então seguimos viagem. Pelo menos seguíamos, mas de repente parou.
Ponta Grossa
Finalmente chegamos em Ponta Grossa, às 13 horas, ficamos longo tempo, Deus sabe quanto lá, éramos para sermos levados ao acampamento dos imigrantes aonde chegamos às 15 horas. Mas não tinha mais lugar para todo este mundo de gente que aqui chegavam. Recebemos comida, o que também levou horas, e quando estávamos prontos já escurecia. As noites são bastante frias e de dia é quente. Andamos por aí, a fim de encontramos algo de bom. Achamos um lugar para dormir, naturalmente no chão puro.
Quarta, 14 de maio, após ter dormido bem, fomos buscar nossas malas, lá pelas 8 horas, e seguimos para o escritório a fim de saber quando continuaríamos nossa viagem. Nos disseram que iamos seguir às 2 horas. Mas nossas caixas não haviam chegado, assim um tinha que ficar para traz e assim fiquei. Os outros levaram sua bagagem a estação. O trem sairia às 2 horas, mas teve duas horas de atraso. O que é de praxe. O expresso tinha mais atraso, assim continuávamos às 4 horas.
Quinta, 15 de maio, esperamos o dia todo por nossas caixas. Disseram que viriam logo, mas nada feito, voltamos à estação e brigamos lá, enfim chegaram às 5 horas, mas nós não podiamos acompanhar, pois já escurecia. E também começou a chover. Choveu a noite toda, torrencialmente.
Sexta, 16 de maio, de manhã tinha tempo bom, mas às 9 horas continuou a chover novamente. Às 8 horas era para ser desembarcado a bagagem grande. Estávamos lá para pegá-la, mas inutilmente. Fomos à estação para ver o que acontecera. Depois de deixar todo mundo bem nervoso mandaram conosco um interprete no vagão que deixaram num ponto morto da estação. Chegando lá, tivemos que catar um por um no meio da caixaria. Daí chegou uma locomotiva que empurrou os vagões na rampa de embarque onde podiam ser descarregados, quando já tínhamos descarregado algumas das caixas começou novamente a chover. Mas não nos adiantava nada, tínhamos que descarregar para que pudéssemos seguir viagem hoje mesmo. Como as caixas estavam na chuva, procuramos algo para cobri-las. Achamos alguns pedaços de lata de cobertuea, não era ideal, mas serviam. Às 12 horas destinaram um vagão para nós e carregamos, mas para isso tivemos que abandonar o almoço, pois às 2 horas ia um comboio. Lamentavelmente nem todos conseguiram suas caixas, assim nós tivemos que ajudar no carregamento. Deu muita correria ainda e arrumamos para mais 8 pessoas um lugar. Assim seguimos para Porto União. Com meia hora de atraso, o Expresso saiu de Ponta Grossa às 2:30 horas. A meia-noite chegamos em Porto União. Alguns foram buscados na estação.
Chegada a Porto União
Sábado, 17 de maio de 1924, era a data de nossa chegada lá. Fui procurar o departamento de imigração, em fim achei. Lá fiquei a noite toda. Por volta da manhã fomos tomar café. Os imigrantes foram alimentados no Hotel Paraná. Este ficava a uns vinte minutos da estação. Depois de ter tomado café e que soube que nossa alimentação era da família Keller, fui procurá-los. Fui ao mosteiro dos Franciscanos perguntar ao padre Hovel se ele não sabia onde a Família Keller morava. Mas ele não sabia, mas me informou que tinham ido até a Família Metzler, a respeito de compra de terreno.
Fui até lá mas não achei o Sr. Metzler, a esposa dele não sabia nada, só me disse para falar com o Sr. Rupp que talvez soubesse alguma coisa. Mas este também não tinha conhecimento e me mandou ao Hotel Former. Lá também, não encontrei nada e ninguém. Tomei um copo de cerveja e esperei mais um pouco. Não demorou muito e ele veio, sabia onde Keller estava e iria comigo até eles. Seguimos uns 500 metros, vinha em nosso encontro o Sr. Karl Openrath. O qual já estava caminhando o dia todo a minha procura. Conversamos a respeito de terrenos e outras coisas. Tive que ir almoçar. Era tão bom como nenhum outro no Brasil. O cardápio era: Arroz, batata e carne ao molho. Após o almoço, fui a procura do Sr. Poller, o qual achei no Hotel Paulmann. Neste hotel achei uma cama disponível para mim. Busquei minha bagagem no acampamento de imigração e levei-a ao hotel. A tarde fui ao centro para cortar meu cabelo. Mais tarde voltamos ao Mosteiro, mas o padre não estava.
Domingo, 18 de maio de 1924, fomos à missa cedo, tomamos comunhão e nos confessamos. A tarde fomos mais uma vez no Sr. Rupp e combinamos como e quando podíamos ir a São Miguel. Pois queria ver o terreno primeiro sem compromisso, antes de comprá-lo.
Iríamos com o trem das 1 da madrugada a Nova Galícia de onde eram somente 7 km de São Miguel, mas o trem provavelmente atrasaria por duas horas.
A viagem à Nova Galícia
Segunda, 19 de maio de 1924, por 3 horas fomos à estação mas o trem não só atrasaria 2 horas e sim 3. Lá pelas 4 horas saímos. Logo começou a chover. O trem não progredia bem, pois os trilhos estavam molhados e tinha muitas subidas. Nova Galícia está a 300 metros a 500 acima de Porto União. Um pouco antes de Nova Galícia ele parou. Então repartiram os vagões, subiram só com dois, os outros dois ele buscou depois. Chegamos lá somente às 7 horas. Nesta estação achei um Hotel, fomos tomar café e esperar que parasse de chover, mas às 10 horas resolvemos de ir a São Miguel, mal andamos 1 km quando choveu novamente, não encontramos abrigo em lugar nenhum, assim seguimos caminhando pela chuva. Quando já estávamos bem molhados passamos por um colono. Nos abrigamos lá por uma hora. O colono era um russo branco. Seguimos por tempo, o barro entrava no sapato e a água também. Chegamos lá a 1 hora.
São Miguel
Chegamos na casa do professor desta aldeia. Tiramos a roupa molhada e tomamos café. Sentamos perto do fogão enquanto secávamos as roupas. Não fomos mais além, ficamos ali mesmo, pois o tempo estava muito ruim.
Terça, 20 de maio de 1924. Quando acordamos de manhã, não chovia mais e pudemos dar uma olhada na região. Fomos também, ver o terreno que estava à venda (pura selva). A terra parecia ser boa, mas não havia nada além de mato, não tinha casa, nem lugar para construir. O dono nos ofereceu uma casa por 1 ano se comprássemos o terreno.
Quarta, 21 de maio de 1924. Hoje encontramos um conterrâneo nosso de Duesseldorf, Sr. Lappers. Este nos contou que poderíamos conseguir outros terrenos com casa e com mato derrubado, e nos mostrou algum. Neste caminho encontramos mais um alemão. Este também nos acompanhou para ver terrenos. Achamos um com casa, era 8:10 hectares já abertos para plantio, o que nos agradou. Não podíamos ficar mais tempo porque novamente tornou a chover. Já era hora do almoço. Após o almoço chegaram os pais da mulher que nos alugou um quarto, eles já eram velhos, mas ganhavam ainda seu dinheiro fazendo fumo. É um serviço leve. Após o café voltamos a conversar com os dois de Duesseldorf, eles moravam muito bem. Lá ficamos só um pouco pois já escurecia.
Quando chegamos em casa ajudamos o homem a fazer pasto já que iríamos ficar vários dias.
Porto União
Quinta, 22 de maio. Choveu a noite toda. Fomos de novo a Porto União. Que pena, o tempo continuava péssimo. Chegamos às 2 horas em Porto União. Primeiro fomos almoçar. Depois fomos na casa do Sr. Metzler para escutar o que sabia de vendas de terra. O preço do terreno com a casa seria de 3,500,00 mil reis. Voltamos e organizamos nossa bagagem, pois seguiríamos durante a noite. Fomos ver na estação quanto atraso teria, e descobrimos que seriam 5 horas, mais ou menos. Resolvemos ir dormir.
A Viagem à Nova Galícia
Sexta, 23 de maio, levantamos às 4 horas, pois o trem sairia às 5 horas, chegamos a tempo, mas o trem não. Saímos só às nove e chegamos à Nova Galícia às 10 horas. Mas a carroça que era para carregar nossas coisas não estava lá ainda, fomos ao Hotel para tomar café, nós não tínhamos tomado café ainda quando a carroça chegou, pois o dia era ensolarado. Meio-dia saímos de lá e devagar morro acima e abaixo chegamos em São Miguel.
São Miguel
Após o café fizemos um passeio de reconhecimento da região.
Sábado, 24 de maio. O tempo estava bom, nada de especial. De manhã cortamos um pouco de lenha e fomos caçar, nada mais importante.
Domingo, 25 de maio. Dirigimo-nos à igreja cedo, onde tinha culto sem pastor. À tarde passeamos pela região.
Segunda, 26 de maio. Está chuvoso.
Terça, 27 de maio. Tempo bom, fomos à Nova Galícia a cavalo para ver se nossas caixas já chegaram a fazer compras.
Quarta, 28 de maio. Karl Johann e o carroceiro foram à Nova Galícia buscar nossas coisas, quando voltaram, descarregamos.
Quinta, 29 de maio. Pentecostes. A noite toda temporais e chuva. De manhã chuva. Parou lá pelas 11 horas. Fomos à igreja e depois passeamos. À noite fizemos música e cantamos a Santa Missa. Pois no domingo deveríamos cantar na Santa Ceia, pois viria um padre.
Sexta, 30 de maio. Durante a noite geou forte, de manhã fomos até a casa que queríamos comprar para deixá-la legal. Terminamos o fogão, ficou a lareira a terminar. A tarde veio um padre.
Sábado, 31 de maio. Fomos primeiro a Santa Missa, à tarde fomos até a casa e desfizemos os caixotes, colocamos as vestes ao sol, pois ficou tudo embolorado. De noite fizemos mais um ensaio para a missa.
Domingo, 1 de junho. Geou novamente, mas de dia um sol lindo, fomos à missa bem cedo e às 10 horas era a missa festiva com Santa Ceia. À tarde fomos à casa dos Lappers buscar batata, trigo e centeio. Ele prometeu de nos ceder algo disso. Mas batata ele mesmo não teria. Quem sabe ele iria perguntar o vizinho se ele pudesse arrumar um pouco.
Depois de ter tomado café, lá fomos para casa. À Noite cantamos mais um pouco e depois fomos dormir.
Segunda, dia 2 de junho. Hoje de manhã fomos na casa, lá estava o Karl, derrubando um pinheiro, eu fui fazer a lareira. O tempo estava nublado já de manhã.
Terça, 3 de junho. Arrumamos o galinheiro e prendemos as galinhas lá.
Quarta, 4 de junho. Hoje está muito nublado, fui com o Karl partir tábuas. À tarde fui com Karl sozinho. Johann ficou em casa arrumando.
Quinta, 5 de junho. Continua com cerração. Fizemos um cercado para as galinhas, para que possam sair comer verde. À tarde ficamos em casa organizando tudo um pouco melhor.
Sexta, 6 de junho. Hoje fomos com toda a mudança para a casa, para que parássemos de correr de um lado para o outro. À tarde Karl foi a cavalo à Nova Galícia fazer compras. O tempo estava muito bonito.
Sábado, 7 de junho. Hoje arrumamos muita coisa e cortamos lenha. À noite fomos dar uma volta para ver o que podíamos comprar.
Domingo (pentecostes), 8 de junho. Quando levantávamos começou a chover e assim ficamos em casa. Arrumamos a casa e escrevemos cartas.
Pentecostes, segunda, 9 de junho. Hoje geou novamente. Às 9 horas fomos à igreja, depois fomos comprar um porco e voltamos à 1 hora. À tarde limpamos as armas, 8 horas veio alguém nos buscar. Éramos para fazer música. Nós fomos sem vontade mas quando chegamos, a colônia toda já estava lá reunida e queriam dançar. Tocamos algo que não tinha nem pé nem cabeça, mas a turma ficou feliz. Nos deram comida e bebida de graça e no final nos deram ainda 18 mil reis. Resolvemos de fazer isto às vezes de enquanto, pois desta quantia podíamos viver 14 dias.
Terça, 10 de junho. De manhã fizemos uma gamela para salgar carne. A tarde veio o homem com o porco e a noite tínhamos carneado. Era o primeiro porco que matamos em nossas vidas.
Quarta, 11 de junho. Trabalhamos a carne para lingüiça e outros, ficou tarde da noite até terminar tudo.
Quinta, 12 de junho. Hoje estávamos com preguiça, Karl tinha terminado o forno para secar tabaco, Johann salgou o resto da carne e eu cultivei um pedaço de chão para semear fumo.
Sexta, 13 de junho. A preguiça cresceu, pois ficamos em dúvida ser iríamos ficar aqui ou não. Cortamos alguma lenha. Karl arrumou uma caixa. Duas galinhas botaram o seu primeiro ovo.
Sábado, 14 de junho, cortamos lenha e limpamos a cozinha.
Domingo, 15 de junho, fomos à igreja de manhã. De tarde recebemos visita. Fizemos um pouco de música e fomos deitar cedo.
Segunda, 16 de junho. Levantei bem cedo para tratar o cavalo, pois em seguida fui com ele até Porto União, é um trecho de 25 km, o que leva de 4 a 5 horas a cavalo. À noite, às 7 horas, estava de volta em casa.
Terça, 17 de junho. Até que enfim, hoje lavamos roupa.
Quarta, 18 de junho. Hoje brigamos por causa do serviço.
Quinta, 19 de junho. Continuamos brigando.
Sexta, 20 de junho. Esta noite choveu até de manhã às 10 horas. Brigamos mais um pouco. De tarde nós nos mudamos mas não conseguimos levar tudo.
Sábado, 21 de junho. Levamos o resto.
Domingo, 22 de junho. De manhã fomos à igreja, mas de tarde, já que chovia, matamos o tempo escrevendo cartas e jogando baralho.
Segunda, 23 de junho. De manhã terminamos a lingüiça e a tarde preparamos terra para plantar vagem e fechamos o quintal.
Terça 24 de junho. Esta manhã fizemos cabos para as foicinhas, nós éramos para limpar o mato. Mas Karl e Johann perderam a vontade, pois no começo tudo é difícil. Mas tem que ser feito.
Sexta, 27 de junho. Como é festa de Coração de Jesus fomos à Igreja.
Sábado, 28 de junho. Karl e Johann deviam cortar uma árvore velha, mas novamente perderam a vontade.
Domingo, 29 de junho. Karl e Johann foram para Porto União a cavalo a fim de procurar emprego. Choveu o dia todo.
Encontrando trabalho em Porto União
Segunda, 30 de junho. Karl e Johann voltaram hoje de manhã. Encontraram trabalho. Para mim também. Fizemos nossas malas, caixas, etc. Karl já voltou a Porto União à tarde, pois tinha que assumir o emprego amanhã. Johann ficou até que a carroça estava carregada.
Terça, 1 de julho. Hoje de manhã fui trabalhar (maiar). A noite não podia me mover de tanta dor nos ossos.
Quarta, 2 de julho. Hoje tive que catar pedras. Meu chefe queria construir um fogão. Estava construindo a cozinha toda e eu agora devia concluir o fogão. À tarde fui junto maiar.
Quinta, 3 de julho. Levantamos às 5 horas, pois às 6 horas chegava a carroça com nossos pertences e Johann. Durante o dia continuei no fogão, ia muito devagar, pois tinha que fazer com pedras naturais.
Sexta, 4 de julho. Continuei no fogão.
Sábado, 5 de julho. Hoje arrancamos a cozinha velha do colono, eu mais o filho dele, e cobrimos a cozinha nova. Não pude continuar no fogão, não tinha chapa. À tarde arrumamos as coisas e fomos maiar. Às 8 horas da noite tinha ensaio de canto. A semana toda tinha tempo bom.
Domingo, 6 de julho. O tempo continua bom. Às 9 horas fomos à igreja. Depois tinha ensaio. Mais tarde escrevi cartas e matei o resto do dia com qualquer coisa.
Segunda, 7 de julho. Hoje choveu, por isso não fizemos nada fora.
Terça, 8 de julho. Cortamos lenha e carpimos a semente de trigo no chão.
Quarta, 9 de julho. Semeamos trigo e maiamos.
Quinta, 10 de julho. Colhemos trigo. À tarde maiamos e à noite, às 8 horas, ensaio e canto.
Domingo, 13 de julho. Choveu hoje. A tarde tinha baile. A música era boa. Eu tam´bem tive que tocar. O baile terminou às 4 horas da manhã.
Segunda, 14 de julho. Nós mal tínhamos deitado por meia hora quando fomos acordados por tiros de carabina e gritos. A 100 metros de nós estava queimando uma casa. Pulamos da cama e corremos lá para salvar o que fosse possível, mas não havia mais nada. O incêndio começou com chepa de cigarro de um bêbado.
Terça, 15 de julho. Roçamos o mato.
Quarta, 16 de julho. Roçamos o mato, assim continuou até sábado.
Domingo, 20 de julho. Saí às 5 horas da manhã a cavalo para visitar Karl e Johann em Porto União. Pelas 10 horas chegamos lá. Fomos primeiro à igreja, lá encontrei com Johann. Após a missa fomos ao alojamento dele, onde almocei. Mais tarde saímos para ir até onde estava Karl, andamos muito mas não o encontramos. Finalmente voltamos, já ficava tarde. Às 5 da tarde voltamos a cavalo. No caminho pegamos chuva de surpresa. Ficou tão escuro que não dava para enxergar nada. Chegamos recém às 9 horas da noite.
Segunda, 21 de julho. Hoje tinha missa aqui, pois o padre veio por causa de um caso de doença. À tarde roçamos.
Terça e Quarta, 22 e 23 de julho. Roçamos também.
Quinta, 24 de julho. Hoje tive que cortar pela primeira vez as árvores nativas do terreno do Sr. Vogel. Nós estávamos entre 11 homens. Eu e um outro serramos um pinheiro, o que levou o dia todo.
Sexta e sábado, às 5 horas, ensaio e canto.
Domingo, 27 de julho. De manhã fomos no culto e de tarde fomos passear.
Segunda, 28 de julho. Limpamos em casa, o tempo estava fio, molhamos tudo.
De terça a sexta roçamos.
Sábado, 2 de agosto. Hoje de manhã o padre estava aqui. Às 9 tinha missa. À tarde continuei na limpeza. À noite fui me confessar. Às 8 horas, ensaio e canto.
Domingo, 3 de agosto. Às 8 horas tinha a missa e eu fui comungar. Às 10 horas missa solene onde cantamos a primeira vez à missa. Veio muita gente, em frente à igreja tinha cavalo ao lado de cavalo, parecia um batalhão. Às 3 horas da tarde tinha culto.
Segunda, 4 de agosto. De manhã, satã missa. À tarde fui roçar.
Terça, 5 de agosto. Fomos cortar árvores a semana toda.
Sábado, 9 de agosto. Recebi duas cartas de casa. À tarde ensaio e coral.
Domingo, 10 de agosto. Culto às 10 horas.
Segunda, 11 de agosto. Roçar mato. De terça a quinta carpimos.
Sexta, 15 de agosto. Hoje é feriado, assunção de Nossa Senhora. Geou forte. Às 10 horas culto. À tarde fui passear para ver o mato que teria que derrubar.
Sábado. Hoje carpimos o quintal de manhã e à tarde a plantação.
Domingo, 17 de agosto. Às 9:30 culto, geou a semana toda e de dia era quente.
Segunda, 18 de agosto. Derrubamos mato e terça Carpimos.
Quarta, 20 de agosto. Hoje de manhã fui no mato às 6 horas e peguei o trabalho em empreitada.
Quinta, sexta e sábado: Carpi. À noite fui no ensaio de coral.
Domingo, 24 de agosto. Culto de manhã. Durante o dia escrevi e me preparei para ir a Porto União amanhã.
Segunda, 25 de agosto. Hoje de manhã saímos às 4:30 horas a cavalo para Porto União, chegamos lá às 11 horas. Saímos de Porto união às 4 horas da tarde, mas como estávamos muito carregados tivemos que ir devagar. Pegamos chuva no caminho. Às 2 horas chegamos em casa.
Durante 5 dias roçamos o mato, mas no sábado à tarde ajudei a queimar uma roça de capoeira, e a noite ensaio do coral.
Domingo, 31 de agosto. Cedo fui ao culto, à tarde escrevi, mais tarde fui pegar uma mula para um amigo que amanhã quer ir ao Porto União. À noite choveu.
Segunda, 01 de setembro. A chuva durante a noite era pesada, por isso não deu para ia a Porto União. À tarde fizemos um potreiro.
Terça, 02 de setembro. A noite tinha um baita temporal com chuva forte. De manhã arrumamos uma roça.
Quarta e quinta fizemos erva, na sexta não deu para trabalhar por causa da chuva. À tarde fui à Nova Galícia fazer compras.
Sábado, 06 de setembro. A noite choveu de novo, mas de manhã parou e fomos carpir o dia todo. Arrumamos o pátio e a noite ensaiamos.
Domingo: Culto.
Segunda, 08 de setembro. Dia de nascimento de Santa Maria, fomos ao culto cedo e de tarde demos uma volta no mato.
Terça, 09 de setembro. Trabalhamos com mate.
Quarta, 10 de setembro. Fomos à Nova Galícia carregar uma trenzina, chegamos à noite em casa, bêbados. O resto da semana fizemos erva mate.
Sábado: À noite ensaio.
Domingo, 14 de setembro. Culto de Manhã e à tarde visitamos um amigo.
De segunda a quinta fizemos erva mate.
Sexta, 19 de setembro. Hoje de manhã caminhamos no mato procurando erva mate, no caminho encontramos um grupo de macacos. Era curioso como eles pulam de uma árvore para a outra, com os pequenos nas costas. Olhamos um tempo e fomos para frente. Não achamos muita erva mate, não valia a pena colhê-la. À tarde trabalhamos na erva lá perto.
Sábado 20 de setembro. Quando quis levantar cedo, meu pé estava bem inchado. Quase não podia pisar. Não foi possível trabalhar, assim fiquei em casa. À tarde ajudei um pouco em casa e à noite, ensaio.
Johann Volta à Alemanha
Domingo, 21 de setembro. Queríamos ir bem cedo com o Karl para o porto, queríamos ver o Johann mais uma vez antes que voltasse para a Alemanha. Meu pé tinha arruinado e não podia montar, tive que ficar na cama, não deu para dar as cartas para Johann, que as levaria. Após o culto, os cantores vieram aqui para ensaiar algumas canções para domingo, festa do patrono do lugar. À tarde fiquei deitado. Ao deitar uma mulher me colocou estrume de vaca no pé.
Segunda, 22 de setembro. Dormi muito mal à noite de pura dor no pé. Fiquei na cama o dia todo. Não dá pra pisar com ele no chão.
Terça, 23 de setembro. Esta noite dormi bem, pois o pé melhorou um pouco. Queimamos o mato, era tanta fumaça que não se via nada.
Quinta, 24 de setembro. Hoje fiquei em pé, o pé está melhor, escrevi cartas.
Sexta, 25 de setembro. Fiz duas formas para bolo e duas espumadeiras.
Sábado, 26 de setembro. Enfeitamos a igreja, meu patrão Mathias Vogel casou hoje e nós estávamos convidados. À noite esperamos até as 24 horas quando vieram os noivos recém casados do Porto, fomos até a casa dele e tivemos algumas horas alegres ainda. Às 7 da manhã fomos dormir.
Domingo, 28 de setembro. Culto às 7 horas, de tarde continuamos a enfeitar a igreja.
Segunda, 29 de setembro. Festa da igreja. De manhã veio Karl. Ele recebeu um dia de folga e queria vender as coisas dele que tinham permanecido aqui. Hoje o padre esteve aqui, às 9:30 tinha o Sagrado Sacramento. A tarde havia baile, nós fomos mas não ficamos muito tempo. À noite o padre nos visitou e tivemos um papo aconchegante.
Terça, 30 de setembro. De manhã, mais uma santa missa às 6:30 horas. Meio-dia tiramos fotos. Mais tarde fui com Karl na nossa casa anterior. Organizei 2 cavalos, para levar Karl na estação. Às 16 horas fomos à Nova Galícia a cavalo.
Karl Volta à Alemanha
Assim foi nossa última jornada com Karl aqui no Brasil. Agora estou sozinho aqui entre os 7 imigrantes que chegaram até aqui. Às 21 horas já tinha voltado.
Durante quatro dias plantei milho no velho Vogel.
Sábado: ensaio de canto.
Domingo, dia 15 de outubro. Plantei milho no Sr. Mathias Vogel, a tarde houve uma conversa que os revolucionários iriam chegar até nós. Nós nos armamos e fomos ao encontro a eles. Achamos uma boa posição para esperá-los para ver o que vinha, mas de varde, pois ficaram 1 hora de São Miguel.
As mulheres e crianças foram na frente para se esconder no mato e levaram consigo que havia de bem na aldeia. Quando acalmou tudo, fui procurá-los, molhei de fio a pavio no temporal que deu.
Quarta, 8 de outubro. Fomos plantar milho, levamos o almoço, pois era longe de casa. Veio uma menina nos avisar que os bandidos estavam a caminho, fomos correndo para casa nos proteger e armar. Os homens já tinham todos ido ao moinho onde tudo ocorreu. Fomos lá e prendemos alguns medrosos que nos acompanharam. Quando chegamos, eram soldados que tinham suas carroças com 8 cavalos, e tínhamos que transportar a bagagem deles para frente. Queriam ir à Palmas, onde estavam os revolucionários. Podíamos voltar, uma menina estava colocada numa posição de vigia, e quando nos viu, pois éramos 25 homens, ela correu e disse ao pessoal que os bandidos estavam vindo. Eu tinha abanado para ela e gritei de brincadeira que ela corresse. Quando chegamos na colônia todo mundo tinha fugido. O X da questão era que me culparam e por isso tive que procurá-los. Andei 1 ½ pelo mato para encontrá-los.
Quinta: Plantei milho.
Sexta: Plantei feijão como também no sábado, também matei uma cobra. De sábado para domingo geou e matou tudo o que já tinha nascido.
Domingo, 12 de outubro. Geou novamente, de manhã fomos ao culto.
Segunda, terça e quarta: De manhã colhemos milho, os braços me doíam tanto que quase não pude movê-los.
Quinta, 16 de outubro. Limpamos o pátio da igreja.
Sexta, sábado e domingo colhemos.
Segunda, terça e quarta plantamos mandioca.
Quinta plantamos batata.
Sexta limpamos um pedaço de mato. À tarde era vacinação aqui, por isso não rendeu nada, mais tarde fomos beber.
Sábado, 25 de outubro. Plantamos milho e à noite ensaiamos.
Domingo, 26 de outubro. Tempo bom, fomos passear.
Segunda limpamos um pedaço que era mato.
Terça plantamos milho.
Quarta plantamos feijão.
Quinta e sexta plantamos milho no pedaço de feijão vagem.
Sábado, 1 de novembro. Tinha culto às 9:30 horas. De tarde organizamos a igreja. À noite noivei com Berta Vogel. Pedi a mão aos pais e eles concederam.
Domingo, 2 de novembro. Ontem veio o padre e hoje de manhã fui me confessar e tomar comunhão. Mais tarde, às 2:30, tinha missa de ação de graças. Após a missa ainda fizemos a queima do portal.
Segunda, terça e quarta de manhã plantei milho e quarta de tarde festejamos nosso noivado.
Quinta e sexta limpamos o terreno da escola, mais tarde choveu e eu afiei a serra.
Sábado, 8 de novembro. Fui plantar feijão e milho cedo, mas de tarde não tinha mais vontade de trabalhar e fui no meu cunhado buscar muda de mandioca.
Domingo, 9 de novembro: Hoje cedo fui com dois colegas a pé para o Porto, às 9 horas chegamos lá. Fizemos o que tínhamos a fazer. Eu comprei as alianças, depois fomos à igreja. Partimos às 15 horas e chegamos a São Miguel às 20 horas. Fui na casa de minha noiva ainda.
De segunda a quarta carpimos a capoeira para plantar mandioca.
Quinta, 13 de novembro. Negociamos um terreno com o Sr. Metzler para potreiro, chegamos num bom acordo. Mais tarde plantamos alguma mandioca e carpimos um pedacinho. À noite começou a chover.
Sexta, 14 de novembro. Plantei feijão o dia todo.
Sábado, 15 de novembro. Plantei milho.
Domingo de manhã tinha culto, depois ensaiamos cantos. Esta semana o ex-bispo quer vir até aqui.
Com isso termina o diário.
Poscriptum
Alguma coisa temos a relatar. Reescrevi palavra por palavra, mas alguma coisa não pude decifrar. Talvez alguns nomes não sejam bem corretos, mas o sentido era o mesmo.
Quero deixar claro que o Sr. Mibach foi uma benção para a colônia e seus habitantes. Pois com sua energia fez muita coisa.
Desculpe os erros, mas não sou datilógrafo, escrevo somente com um dedo e não enxergo bem, por isso bati muitas vezes do lado.
Mais algumas datas
Sr. Mibach casou com Berta Vogel ainda em 1924. Em 1940 o Sr. Mibach ficou viúvo e no mesmo ano mudou para Porto União. Em Porto União trabalho em uma oficina mecânica. Em 1950 casou novamente com a viúva “Olinda Scheider Ruschel”. O Sr. Mathias Mibach tinha com sua 1ª esposa Berta 7 filhos:
1) Adam;
2) Anna;
3) Irma;
4) Lídia;
5) João;
6) Gabriella;
7) Waldomiro, o qual nasceu em 1939.
Agora escrevi tudo que achei e sei. Desejo a todos os leitores que Mathias Mibach fique em boas lembranças.
Com as melhores recomendações, vosso Eduardo Scwaerzer.