4. Represa de Foz do Areia: influência nos níveis das enchentes
Os estudos (COPEL, 1980; COPEL/SPIDVHI, 1985; Tucci, 1993, 1997 e agosto de 1998; JICA, 1995; HG-79, CEHPAR, 1996) discutiram o efeito do remanso de Foz de Areia sobre níveis das enchentes em União da Vitória. Níveis muito altos em Foz de Areia podem aumentar as cotas em União da Vitória. No entanto, isto depende do nível operacional na usina e das vazões afluentes na cidade.
O efeito da cota de operação de Foz do Areia nas cotas em União da Vitoria, para diferentes vazões, vem sendo minimizado. Por exemplo, para uma vazão de 1000 m3/s, a diferença em União da Vitória resultante de operar Foz do Areia em 742,00m ou, executando manobra para rebaixamento do nível no reservatório para 740,00m seria de 3 cm. Como o nível correspondente à vazão de 1000 m3/s em União da Vitória - para qualquer nível de operação em Foz do Areia - fica abaixo da cota de desapropriação (744,50m na área urbana), não há prejuízos à cidade.
Esta situação se altera quando a vazão na cidade chega a 2.000m3/s. Se a operação no reservatório for mantida em 742,00m, a influência seria de 8 cm. O nível na cidade seria 745,74m (régua em 6,13m) se fosse efetuado um rebaixamento para 740,00m.
Na ocorrência de chuvas excepcionais, com uma elevação do reservatório para 743,50m restringindo a possibilidade de manobras rápidas para cotas menores, a influência do remanso é maior. Com o reservatório operando na 741,50m o nível seria de apenas 744,43m. Estaríamos lendo na régua 4,82m - uma diferença agora significativa - de 61cm. Observa-se também que, quanto maiores às vazões na cidade, a influência da operação diminui. Foz do Areia em 743,50m igual a nível 750,30m na cidade. Foz do Areia em 740,00m correspondendo a nível 750,06m em União da Vitória. Diferença de 24crn.
Em dezembro de 1997, a SEC-CORPRERI apresentou urna tabela com restrição de operação de Foz do Areia para vazões entre 1200 e 1600m3/s. A COPEL discordava dos resultados e questionou a metodologia de simulação através do trecho das pedreiras no Rio Iguaçu.
Os engenheiros da COPEL argumentaram com relação ao nível de precisão dos resultados para este tipo de problema e das diferenças de influência. Além disso, mencionaram a existência de dados na faixa de vazões mencionadas que poderiam melhor precisar os resultados.
Em março de 1998, condições propícias facultaram uma elevação dos níveis no reservatório até a cota 742,92m. Os novos dados de vazão, medidos com aparelhagem de alta precisão (ADCP), e os correspondentes dados de nível na régua de União da Vitoria, agora medidos "na prática" foram fornecidos pela COPEL para análise.
Foi executada uma nova calibração, orientada especificamente à faixa de valores de vazão em União da Vitoria (1000 a 5000 m3/s) e níveis em Foz do Areia (739,00 a 743,50m), de interesse para a definição de regras de proteção contra enchentes. Em agosto de 1998 a SEC-CORPRERI recebeu do seu consultor urna nova tabela de "Níveis em União da Vitória em Função dos Níveis em Foz do Areia" e a encaminhou à COPEL. Durante o ano de 1999 foram realizadas reuniões técnicas em busca de urna conclusão de consenso para a adoção oficial, conjunta, de urna tabela que estabelece regras operacionais em Foz do Areia sem aumentar os níveis de enchente em União da Vitória.
As medições de vazões utilizando o ADCP, um aparelho que incorpora maior precisão e qualidade de informação tiveram início em 1996, e sinalizam urna redução média de 10 centímetros na curva de descarga natural para o posto fluviométrico instalado na Ponte Machado da Costa. Os estudos da COPEL para aproveitamento dos recursos hídricos na bacia do Rio Iguaçu datam de 1931.
Em dezembro de 1999, técnicos e diretores da companhia argumentaram sobre a necessidade de ampliação da base de dados e informações com as medições que vem sendo levadas a efeito com o ADCP. Nesta reunião, a COPEL se comprometeu com a SEC-CORPRERI a manter as medições e disponibilizar à comissão e à população das cidades - por instrumento público - todos os dados visando o ajuste da curva de descarga natural em União da Vitória. A curva de descarga mostra a vazão do rio Iguaçu na sua condição natural. Qualquer diferença entre o nível do rio em União da Vitória e o nível apontado por esta curva que refere às condições naturais de escoamento é remanso. Em outras palavras, influência da operação em Foz do Areia.
A COPEL e SEC- CORPRERI procuraram definir uma norma de operação para a Usina de Foz do Areia baseada em dois critérios:
- Elevar a capacidade de geração da usina e do sistema na bacia do Iguaçu;
- Não influenciar os níveis das enchentes em União da Vitória.
Concluíram, também, sobre a necessidade de buscar medir um número maior de dados de vazão em períodos de seca - e enchente, e, quando houverem condições propícias, efetuando variações no nível do reservatório de Foz do Areia, afim de precisar, com base de dados mais extensa, possíveis efeitos da operação sobre níveis na cidade.
A necessidade de maior número de informações sobre chuvas e níveis na bacia a montante de União da Vitória, determinou a instalação de novas estações hidrológicas e, um radar capaz de prever quanto de chuva as nuvens podem produzir. Mediram-se várias novas seções entre São Mateus do Sul e Foz do Areia e estão sendo aperfeiçoados os modelos para orientar o rebaixamento antecipado do reservatório afim de que ele não aumente os níveis das enchentes na cidade. (JICA e COPEL levantaram 78 novas seções pontos medindo largura, profundidade extensão das áreas inundáveis e capacidade de escoamento entre a cidade de São Mateus do Sul e Foz do Areia em 1995).
Paralelamente a realização dos estudos hidrológicos, a partir de 1994, o Governo do Estado do Paraná, através da COPEL, CERPAR e do SIMEPAR investiu mais de US$ 4 milhões na instalação de estações hidrológicas e de um radar. O Governo Federal, através da ANEEL (ex-DNAEE) também instalou na região estações que monitoram níveis dos rios com informações via satélite. Em dezembro de 1997, a COPEL apresentou e disponibilizou às comunidades de União da Vitória e Porto União, o SISTEMA DE MONITORAMENTO HIDROLÓGICO DA BACIA DO ALTO IGUAÇU. Hoje, qualquer cidadão já pode, a qualquer momento e em tempo real, dispor de informações sobre níveis dos rios, chuvas e nível operacional em Foz do Areia via INTERNET (https://www.copel.com/ger/iguacu/historico_topo.jsp?id=UV).
As novas estações que medem os níveis dos rios e o volume de chuvas acima de União da Vitória são instrumentos para melhorar a eficiência na geração de energia e do sistema de previsão de cheias e de alerta na cidade. Estas estações tem réguas instaladas na beira dos rios que medem a altura da água. O zero de uma régua, sempre está relacionado ao nível do mar, e é chamado de cota. Por exemplo, o zero da régua da ANEEL, na ponte ferroviária, começa na cota 739,61 metros acima do nível do mar. Quando alguém lê a régua e vê, que o nível do rio Iguaçu está em 5 metros, é o mesmo que dizer que a cota é 744,61. Isto é, o nível da água está a 744,61 metros em relação ao nível do mar.
A leitura visual da régua em União da Vitória é feita todos os dias desde 1930. Pela manhã, às 7 horas. À tarde, às 5 horas. Quando ocorre uma enchente, esta leitura é feita em horários mais frequentes.
Os comunicados ou avisos sobre o nível do rio servem para cada um saber quanto de água falta para chegar em sua casa. Cada morador da cidade lembra ou ainda tem marcado na casa até onde chegou a enchente. Em 1992 o nível máximo chegou em 8,89 metros (cota 748,50 em relação ao nível do mar).
Imagine que em 1992 a água chegou na altura da janela da sua casa. Se você quiser saber qual o nível que pega o assoalho da casa, basta medir quanto dá do piso até a marca da enchente. Se for 80 centímetros, diminua essa medida da marca de 1992: 8,89 - 0,80 = 8,09. Isto significa que quando o rio chegar nos 8,09 metros, a água estará chegando no assoalho.